Introdução: As causas do trauma anorretal são diversas, sendo desde ferimentos penetrantes, lesões pélvicas contusas ou abdominais por acidentes automobilísticos e motociclísticos, a empalamento. Os objetos inseridos no reto são realizados mais comumente por homens de meia‐idade no contexto de instrumentação autoerótica.
Relato de caso: N.CJ.S., masculino de 62 anos, etilista, sem comorbidades, deu entrada em nosso serviço com suspeita empalamento anal, relatou não se lembrar do mecanismo do trauma. Ao exame físico apresentava‐se em regular estado geral, hemodinamicamente estável, com dor a palpação em flanco e hipocôndrio esquerdo. Ao toque retal, presença de ferimento corto contuso em linha média posterior e perda da tonicidade esfincteriana, sangramento retal presente em grande quantidade. Solicitado radiografia simples de abdome sem alterações e encaminhado ao centro cirúrgico para exame proctológico onde evidenciou‐se lesão corto contusa em parede posterior do canal anal, com ruptura completa do esfincter externo e interno, lesão da parede posterior do reto extraperitoneal. Realizado lavagem da ferida e do reto baixo, reparado mucosa do reto, e iniciado esfincteroplastia por sobreposição de cotos musculares. No tempo abdominal foi realizado uma laparotomia exploradora e verificado ausência de lesões intraperitoneais do reto, optado a sigmoidostomia em alça pela gravidade do trauma anal. Paciente evoluiu com recuperação da tonicidade esfincteriana.
Discussão: Os acidentes que ocorrem no ânus e no reto são raros, pela posição anatômica desses órgãos que os protegem. Dor abdominal ou dor pélvica, obstipação, tenesmo e sangramento retal são queixas relatadas na emergência. A vítima do trauma deve primeiro ser submetida a avaliação primária para estabilização hemodinâmica e posteriormente na avaliação secundária o trauma anorretal pode ser abordado. A retossigmoidoscopia flexível é considerada o padrão ouro para a investigação do trauma retal. As leões podem ser classificadas através da escala de lesão retal da American Association for the Surgery of Trauma, e assim decidir a melhor conduta. O manejo do trauma retal intraperitoneal é considerado o mesmo para as lesões do cólon distal, sendo o reparo primário considerado padrão ouro. Quanto ao manejo do trauma retal extraperitoneal, não há um consenso na literatura. Lesões perineais pequenas podem ser abordadas com reparo primário, mas as lesões extensas geralmente requerem reconstrução esfincteriana.