Introdução: Sabe‐se que 75% dos cânceres do canal anal são carcinomas de células escamosas e 20% são adenocarcinomas (ADC). Este é subclassificado em dois tipos: colorretal, que surge da mucosa acima da linha dentada; e tipo extramucoso, que inclui ADC que surge em fístulas anorretais e o ADC decorrente das glândulas anais, que por sua vez é raro.
Caso: Homem de 56 anos com história de doença hemorroidária, com sangramento anal e nódulo com crescimento progressivo há 10 meses. Ao exame evidenciado lesão ulcero‐proliferativa e sangrante em borda lateral esquerda do ânus sem aparente invasão da mucosa anal. Realizado biópsia incisional que evidenciou ADC tubular invasivo, imunohistoquímica positivo para CK 7,CDX2 e focal para CK 20. Ultrassom endoanal identificou uma lesão que ocupa quase toda a circunferência do canal anal se estendendo até transição com o reto inferior, invadindo o músculo esfíncter anal externo, sem plano de clivagem com a uretra, medindo 89×33×57mm, com linfonodomegalia em mesorreto inferior (uT4N1). O PET CT confirmou lesão hipermetabólica na borda anal e linfonodos hipermetabólicos inguinais bilaterais sugestivos de envolvimento secundário. Colonoscopia normal. Tratado com capecitabina oral e radioterapia (57,6Gy). Dez semanas após quimioradioterapia, foi submetido a abordagem multiprofissional com a realização de amputação abdominoperineal extraelevador (ELAPE) pela equipe da coloproctologia, cistoscopia (mucosa uretral livre), exerese de pele do escroto e esqueletização da uretra pela urologia, e reconstrução com retalho miocutâneo vertical de reto abdominal (VRAM) pela cirurgia plástica.
Discussão: O adenocarcinoma das glândulas anais (AGA) apresenta critérios segundo a OMS difíceis de serem cumpridos, principalmente nos casos avançados. Hobbs e cols formularam uma definição útil e discriminatória, sendo o AGA um tumor do canal anal composto por pequenas glândulas dispersas ao acaso, com pouca produção de mucina invadindo a parede da área anorretal sem um componente intraluminal, com imunohistoquímica positiva para CK 7. O caso acima preenche a esses critérios. O tratamento para o AGA não está estabelecido, porém Anwar e cols concluiu que o tratamento ideal é a combinação de ressecção cirúrgica radical com quimioradioterapia neoadjuvante/ adjuvante.
Conclusão: Em pacientes com doença persistente após o tratamento com quimioradioterpia para AGA a cirurgia de resgate deve ser considerada para controle local da doença.