Introdução: Adenocarcinoma associado com fístula anorretal é raro e de patogênese controversa. Alguns autores estabeleceram critérios diagnósticos, entre eles: história de fístula superior a 10 anos, orifício interno em cripta (e não no tumor) e secreção mucinosa.
Descrição do caso: V.S.S., 68, 4 cirurgias por fístula anorretal (última em 2007). Apresentou nova lesão anal, detectada durante internamento por hemorragia digestiva. Apresentava lesão endurecida de 6cm de extensão, a partir da margem anal, com orifício interno em cripta em QPE. Histopatológico: adenocarcinoma mucinoso ulcerado, infiltrando mucosa escamosa anal. Estadiamento: cT4N0M0. Realizou neoadjuvância, com quimio e radioterapia. Ressonância magnética pós‐neoadjuvância: formação expansiva de 7,5cm, componente mucinoso, envolvendo o canal anal em QPE e infiltrando ambas fossas isquiorretais. Submetido em fevereiro de 2018 à ressecção abdomino‐perineal. I.F.S., 52, 3 cirurgias por fístula anorretal, em que na última foi enviado material para histopatológico, compatível com adenocarcinoma com áreas mucinosas. Estadiamento sem evidências de metástases à distância. Ressonância magnética de pelve com tumor mucinoso em trajeto fistuloso, com 5cm de extensão, ultrapassando a muscular própria e invadindo o esfíncter externo, extensão para a fossa isquiorretal esquerda, e linfonodos com características malignas. Realizou neoadjuvância, sendo submetido em julho de 2017 à ressecção abdomino‐perineal.
Discussão: Adenocarcinoma em fístula anorretal tem diagnóstico difícil de ser estabelecido. A ausência de tumor no lúmen intestinal e o crescimento dentro das fossas isquiorretais e períneo atrasam o diagnóstico. Enduramento, sangramento e descarga mucinosa podem sugerir malignização da fístula. Múltiplas biópsias podem ser necessárias. A RNM pode colaborar com achados radiológicos característicos. Tendem a ser localmente agressivos. A disseminação linfática é comum, e metástase à distância é incomum. Tem história natural agressiva e altas taxas de falhas de tratamento. A sobrevida e o controle da doença podem sem maximizados com tratamento combinado de neoadjuvância com ressecção cirúrgica radical.
Conclusão: Entidade rara, de difícil diagnóstico e natureza agressiva, devendo‐se atentar para fatores de suspeição.