Objetivos: Avaliar os aspectos morfológicos do canal anal, através da ultrassonografia endorretal tridimensional, nos pacientes submetidos a tratamento de fístula anorretal primária com sedenho cortante. Avaliar se as possíveis alterações encontradas se relacionam com a continência anal.
Método: Pacientes com fístula anal idiopática e submetidos a fistulotomia com sedenho cortante foram selecionados para ser submetidos a ultrassonografia tridimensional do canal anal e responder ao questionário de incontinência anal de Wexner. A configuração anatômica do canal anal foi estudada e identificada a localização da lesão muscular esfincteriana resultante do tratamento com sedenho cortante.
Resultados: A idade média dos pacientes avaliados foi de 50 anos. Dos 40 pacientes avaliados, 16 (40%) eram do sexo feminino. A localização da fístula era anterior em 33 pacientes (82,5%) e posterior em sete (17,5%). Metade dos pacientes (20) tinha alguma queixa de incontinência anal pelo questionário de Wexner (pontuação maior do que 0) e, nesse grupo, a mediana da pontuação foi de 3,5. Pacientes com maior extensão do esfíncter anal externo (EAE) anterior total apresentaram menor taxa de incontinência anal (p 0,009), assim como aqueles com EAE anterior residual de maior extensão (p=0,004). Pacientes com maior percentual do fibrose no EAE anterior apresentaram maior taxa de incontinência anal (p=0,031). O ângulo da fibrose do EAE anterior não apresentou diferença significativa entre os grupos, porém os pacientes com maior ângulo de fibrose no esfíncter anal interno apresentaram maior taxa de incontinência (p 0,003).
Conclusão: O tratamento da fístula anal com sedenho cortante modifica a configuração do canal anal e pode impactar na função do complexo esfincteriano.