Introdução: A cirurgia radical na forma de ressecção abdominoperineal que resulta em colostomia permanente foi o tratamento padrão de escolha para o câncer espinocelular (CEC) de canal anal até os anos setenta, antes que a radioterapia isolada e, depois, a quimiorradiação suplantassem esse procedimento. A ressecção abdominoperineal rendeu taxas de sobrevida de aproximadamente 50% e taxas de recorrência local de aproximadamente 30%. Na falha da quimiorradiação para o tratamento de CEC de canal anal, é indicada a ressecção abdominoperineal como tratamento de resgate.
Descrição: M.J.G., feminina, 66 anos, diagnosticada com CEC de canal anal em 2016, sendo tratada incialmente com radio e quimioterapia, utilizando 5‐Fluoracil e cisplatina. Após 18 meses foi constatada recidiva do CEC em canal anal, com infiltração da parede vaginal posterior, associada à presença de fístula retovaginal. Realizada amputação abdominoperineal do reto com reconstrução vaginal utilizando retalho fasciocutâneo glúteo,e retalho miocutâneo para fechamento do oco perineal.
Discussão: O tratamento cirúrgico oncológico das lesões tumorais consiste na ressecção em monobloco dos tumores. Por este motivo, fez‐se necessário a associação da colpectomia posterior à amputação abdominoperineal no caso acima descrito. Devido à grande dificuldade em realizar o fechamento do oco pélvico, associado à necessidade de manter as características morfofuncionais da paciente, optamos pela realização de duplo retalho para fechamento do oco pélvico e confecção de neovagina, respectivamente.
Conclusão: Na infiltração da vagina nos casos de recidiva do carcinoma espinocelular, a reconstrução vaginal é possível de ser realizada e apresenta vantagens quanto à preservação da autoimagem da paciente, manutenção de sua vida sexual, bem como melhor fechamento e cicatrização da ferida perineal.