Introdução: A doença inflamatória intestinal (DII) comumente acomete indivíduos em idade reprodutiva. Em mulheres, pode haver interação entre a doença e fertilidade.
Relato do caso: Mulher, 30 anos. Doença de Crohn (DC) havia oito anos, com comprometimento ileal, colônico e perianal, em uso de azatioprina. Encaminhada devido a refratariedade clínica e infertilidade. Ao exame encontrava‐se em estado geral regular, emagrecida e hipocorada. Hemodinamicamente estável. À palpação do abdômen notava‐se plastrão doloroso na fossa ilíaca direita, sem sinais de irritação peritoneal. Colonoscopia e enema opaco mostraram obstrução da flexura hepática e sinais de fístula do delgado com o cólon transverso. Optou‐se por tratamento cirúrgico, que evidenciou obstrução do cólon por massa tumoral no ângulo esplênico e plastrão inflamatório do delgado com múltiplas fístulas entero‐entéricas e fístula do delgado com o cólon transverso. Foram feitas enterectomia segmentar e colectomia direita, com íleo‐transverso anastomose. A análise do espécime cirúrgico confirmou do diagnóstico de DC, sem neoplasia maligna. Trinta dias após a cirurgia, foi iniciada terapia anti‐TNF. Atualmente encontra‐se em remissão clínica, laboratorial e endoscópica da DC. Recuperou a fertilidade sem tratamento específico e encontra‐se gestante, em seguimento conjunto com a obstetrícia, sem intercorrências.
Discussão: O processo inflamatório da DC pode levar a comprometimento das tubas uterinas, disfunção ovariana e dispareunia. Na doença grave, pode‐se observar anorexia e amenorreia secundaria. Apesar de 80% das gestações se desenvolverem normalmente, existe risco aumentado de eventos adversos, como parto prematuro e baixo peso ao nascimento. A maioria das medicações para o tratamento do DC pode ser mantida durante a gestação.
Conclusão: O controle adequado da atividade inflamatória pode diminuir a interferência da DC na fecundidade e nos efeitos adversos durante a gestação.