Área: Doenças Inflamatórias Intestinais
Categoria: Relatos de caso
Forma de Apresentação: Pôster
Objetivo(s): Relatar o caso de um paciente com doença de Crohn com reação ocular ao uso de infliximabe.
Descrição do caso: Paciente do sexo feminino, 51 anos, tabagista, portadora de doença de Crohn (DC) estenosante e fistulizante, com sintomas intestinais iniciados em 2012 e diagnosticada em 2015, quando foi submetida a colectomia total+ileoretoanastomose+histerectomia+lise de múltiplas aderências e anatomopatológico (AP) revelou colite crônica ulcerada com perfuração, estenose, trajeto fistuloso na parede abdominal e aderências entre alças intestinais, útero e tuba uterina direita. Iniciou infliximabe (IFX) 30 dias após a cirurgia para profilaxia da recorrência. Há cerca de 1 ano, os olhos ficaram hiperemiados, com piora após 4 meses de otimização do IFX, apresentando baixa acuidade visual (AV) e hiperemia progressivas, prurido, fotofobia e dor ao redor de ambos os olhos. As alterações encontradas na avaliação oftalmológica foram: AV de 20/40, córnea com ceratite puntata, edema palpebral 1+, diminuição de cílios, hiperemia conjuntival 2+difusa e blefarite. Break up time de 2s bilateral. Mácula seca em fundo de olho. Prescrito dexametasona colírio, lubrificante e regencel®. Após decisão multidisciplinar, optado por suspensão do IFX, com melhora ocular progressiva, porém com piora dos sintomas intestinais: dor abdominal frequente, fezes diarreicas 12x/dia, com sangue eventual. Em julho de 2019 fez retosigmoidoscopia (RTS): mucosa com hiperemia, edema, friabilidade até 12cm da borda anal e AP: ileíte crônica com infiltrado inflamatório crônico (IIC) com raros neutrófilos e mucosa retal com IIC moderado inespecífico e calprotectina fecal de 605mg/kg.
Discussão e Conclusão(ões): A DC é uma doença inflamatória intestinal (DII) e pode acometer outros órgãos. O envolvimento ocular como manifestação extra‐intestinal (MEI) ocorre em aproximadamente 12% dos casos, sendo mais comum na DC e apresenta‐se como uveíte, episclerite, esclerite, conjuntivite folicular e raramente como úlceras marginais da conjutiva ou palpebral, durante doença ativa ou inativa. Os anti‐TNF‐α são cada vez mais utilizados para o tratamento de DII e vários eventos adversos têm sido relatados, como: infecção oportunista, malignidade e fenômenos auto‐imunes induzido pela droga. Apesar dos anti‐ TNF‐α serem indicados para tratar uveíte, esta reação ocular tem sido descrita como efeito adverso, pois o anti‐TNF‐α periférico pode aumentar a reatividade das células T e causar inflamação no olho. No presente caso, após a suspensão da terapia, houve resolução progressiva dos sintomas oculares, a despeito da piora dos sintomas intestinais, confirmando tratar‐se de reação secundária à droga e não a hipótese de MEI da doença. O diagnóstico diferencial das manifestações oculares na DII representa um desafio clínico, exigindo a exclusão de causas infecciosas e eventos adversos relacionados aos medicamentos, antes de classificarmos estas alterações como MEI da DII. Equipe multidisciplinar é essencial no manejo terapêutico destes pacientes.