Introdução: Retocolite ulcerativa (RCU) é uma doença inflamatória crônica que ocasiona inflamação contínua da mucosa do cólon, com padrão ascendente e quadro clínico que varia conforme a extensão da doença. Dentre as opções terapêuticas citadas na literatura, o uso de ciclosporina é aventado como uma das alternativas de tratamento.
Descrição do caso: E.S.P., 19 anos, feminino, atendida na emergência com queixa de dor abdominal, tenesmo, diarréia com muco e sangue há três semanas. Realizado tratamento para gastroenterite e parasitose intestinal sem melhora do quadro. Nega patologias prévias. Possui história familiar de RCU (mãe). Ao exame, regular estado geral, abdome doloroso à palpação profunda sem sinais de irritação peritoneal. Anemia e febre. Tomografia de abdome mostrou espessamento parietal dos cólons associado a densificação dos planos adiposos adjacentes, sugerindo doença inflamatória intestinal. À colonoscopia, pancolite grave, MAYO 3, com biópsias compatíveis com RCU. Iniciado tratamento com antibióticos, prednisona 40mg/dia, mesalazina 3,2g/dia e sintomáticos. Durante o internamento, apresentou agudização da dor abdominal, persistência da enterorragia e piora do estado geral necessitando tratamento em unidade de terapia intensiva. Após o descarte de perfuração, megacólon tóxico e causas infecciosas, optado por nutrição parenteral total e início de ciclosporina na tentativa de evitar colectomia total. Foi utilizado 4mg/kg/dia de ciclosporina endovenosa (EV) por quatorze dias, com melhora clínica gradual dos sintomas, seguido de tratamento via oral associado a azatioprina 2mg/kg/dia. Atualmente a paciente encontra‐se com doença em atividade moderada aguardando início de terapia biológica.
Discussão: Aproximadamente 15% dos doentes com colite ulcerosa apresentam na sua evolução um episódio grave, exigindo internamento hospitalar. Cerca de 40% destes doentes não obtêm remissão com os corticosteróides endovenosos.
Conclusão: O uso da ciclosporina em pacientes com colites graves pode ser uma opção que evita colectomias em até 90% dos pacientes.