Introdução: A citologia do canal anal tem sido usada para detecção das lesões precursoras do carcinoma do canal anal em pacientes de risco. Aqueles com citologia alterada são submetidos à colposcopia anal (anuscopia de alta resolução), que, com ajuda do ácido acético, revela os locais para biópsia e confirmação histológica.
Objetivo: Avaliar se os doentes soropositivos para o HIV apresentam lesões mais graves pelo papilomavírus humano (HPV) à citologia do canal anal do que os soronegativos.
Método: Foram submetidos 1.546 adultos de ambos os gêneros (334 soronegativos e 1212 soropositivos para o HIV) a duas coletas consecutivas com escovas raspadas no canal anal. Os achados foram distribuídos em normais, alterações celulares de significado indeterminado (ASCUS), lesões escamosas de baixo grau (LSIL), alterações escamosas incaracterísticas, em que não se podem afastar alto grau (ASC‐H) e lesões escamosas de alto grau (HSIL). Os critérios de inclusão foram tratamento prévio para lesões anais ou genitais pelo HPV ou parceiros sexuais com lesões anogenitais pelo HPV. Excluímos os doentes com lesões clínicas pelo HPV, carcinoma anal e aqueles com feridas, úlceras ou fissuras no ânus e canal anal e as gestantes. Os resultados obtidos pelos doentes HIV positivos foram comparados com aqueles dos soronegativos.
Resultados: Entre os HIV negativos, observamos 104 (31,2%) normais, 28 (8,4%) ASCUS, 153 (45,8%) LSIL, quatro (1,2%) ASC‐H e 45 (13,4%) HSIL. Entre os HIV positivos, encontramos 325 (26,9%) normais, 103 (8,4%) ASCUS, 624 (51,5%) LSIL, oito (0,7%) ASC‐H e 152 (12,5%) HSIL. A análise estatística não revelou diferenças significantes entre os achados normais e alterados (p=0,12), nem entre os números de HSIL nos dois grupos (p=0,46).
Conclusão: Os resultados obtidos permitiram concluir não haver diferenças entre os achados da citologia oncótica do canal anal para identificar doença pelo HPV em doentes soropositivos e negativos para o HIV.