Introdução: A fístula uretrorretal (FRU) é complicação incomum e, na maioria dos casos, decorrente da prostatectomia radical. O tratamento é habitualmente cirúrgico, com risco de recorrência e impacto na qualidade de vida. O objetivo deste vídeo é demonstrar o primeiro caso de FRU pós‐prostatectomia radical, tratado por operação transanal endoscópica (OTE).
Descrição do caso: Homem, 67 anos. Submetido a prostatectomia radical aberta por adenocarcinoma de próstata. Apresentou peritonite grave e choque no primeiro pós‐operatório por deiscência da sutura vesico uretral e perfuração retal. Realizado laparotomia com lavagem da cavidade, colostomia em alça e sondagem vesical de demora. Após recuperação, evoluiu com saída de urina pelo ânus. Exame proctológico demonstrou orifício retal anterior, a 5cm da rima anal, de 1.5cm de diâmetro ecom fibrose adjacente. Submetido à OTE em posição de canivete. Realizado dissecção e remoção de tecido fibroso, com exposição dos orifícios uretral e retal. Optou‐se por rafia em planos, interpondo folheto de pericárdio bovino entre a sutura uretral e retal. Permaneceu com sonda vesical por dois meses, que foi removida após confirmação do fechamento completo da fístula, sem estenose. A colostomia foi fechada um mês após retirada da sonda vesical, sem intercorrências.
Discussão: Diversas técnicas podem ser utilizadas para o tratamento cirúrgico da FRU, entretanto os princípios cirúrgicos incluem: 1) exposição do trajeto fistuloso, com desbridamento de tecidos fibróticos e isquêmicos; 2) dissecção cuidadosa das estruturas anatômicas envolvidas; 3) sutura impermeável; 4) síntese em planos separados; 5) sutura sem tensão e sem sobreposição; 6) retalhos bem vascularizados; 7) drenagem urinária adequada. A derivação fecal, antes ou após a correção, é controversa. Este é o primeiro relato do uso da OTE para essa finalidade e o método oferece boa exposição do campo operatório, mobilidade satisfatória para o cirurgião e baixa invasividade, já que dispensa abordagem abdominal combinada.
Conclusão: A OTE é pouco invasiva, sem morbidades adicionais e eficaz na correção da FRU pós‐prostatectomia radical.