Introdução: A Doença de Crohn (DC) de intestino delgado pode apresentar complicações agudas que requerem cirurgia de emergência em 6–16% dos casos. Enterectomia segmentar com ou sem anastomose é a operação de escolha.
Relato de caso: Paciente LPM, feminino, 21 anos, com início de sintomas (diarreia, cólicas e anemia) em 2015. Sem sintomas anais. Início de propedêutica em 2016. Enterotomografia: espessamento parietal salteado em íleo médio e distal. Calprotectina: 1.800 mcg/g. Colonoscopia: ileíte terminal com subestenose. Diagnóstico de DC e início de tratamento: azatioprina 50mg/dia. Fevereiro/2017: quadro de abdome agudo perfurativo. Submetida à cirurgia de urgência (enterectomia segmentar e ileostomia em dupla boca). Alta em uso de prednisona 60mg/dia, metronidazol 1,2mg/dia e azatioprina 150mg/dia. Evolução: reinternação para ajuste de medicamentos e tratamento de TEP. Ambulatorialmente foi iniciado Infliximabe. Remissão clínica/laboratorial. Seis meses de pós‐operatorio: internada por massa abdominal em hipogástrio, sem inflamação. Exames mostraram linfocele volumosa em pelve. Submetida à cirurgia: visualizada linfocele em pelve (citologia: ausência de malignidade) e comprometimento do íleo terminal. Realizado: aspiração do conteúdo e limpeza da cavidade; ressecção de 15cm do íleo terminal e ceco e confeccionada anastomose ileocolônica latero‐lateral isoperistáltica grampeada. Apresentou boa evolução e atualmente está em controle ambulatorial.
Discussão: Linfocele é uma coleção de líquido linfático no espaço retroperitoneal e é uma complicação comum em linfadenectomias pélvicas por neoplasias ginecológicas/prostáticas. A maioria das linfoceles é pequena, assintomática e sem significância clínica. Pacientes com coleções maiores podem apresentar dor abdominal, constipação, poliúria e edema da genitália ou membros inferiores. Quando necessário, o tratamento inclui aspiração por agulha, drenagem percutânea ou marsupialização cirúrgica. Não há associação de DC e linfocele na literatura. O quadro séptico abdominal da paciente pode ter causado a coleção linfática.
Conclusão: Descrevemos o caso pela sua raridade e a possibilidade de outros diagnósticos no contexto da doença inflamatória intestinal complicada.