Introdução: Os anti‐inflamatórios não esteróides (NSAID) estão associados a um risco significativo de lesões gastrointestinais no estômago e no duodeno, mas também podem causar lesões no jejuno‐íleo. A prevalência de úlceras gástricas e duodenais associadas a NSAIDs varia de 9% a 22%, com hemorragia grave ou perfuração ocorrendo em menos de 1% ao ano. Até 35% das complicações da úlcera péptica são resultado do uso de AINEs. Além disso, até 10% dos usuários induzidos por AINEs são complicados por hemorragia, perfuração ou obstrução, particularmente em idosos ou com comorbidade. Uma entidade chamada “doença do diafragma” é patognomônica para as estenoses de pequenos intestinos induzidas por NSAID, que são marcadas por múltiplas lesões estenóticas que se intrometem e estreitam o lúmen.
Caso clínico: Uma paciente de 82 anos recorreu à Urgencia com dor no peito. A avaliação revelou Hemoglobina 3g/dL, requerendo 9 unidades de transfusão de hemácias. Na história medicamentosa, referia tomada regular de piroxicam para dor nas articulações. A endoscopia digestiva alta e a colonoscopia não demonstraram alterações. Foi realizada uma entyeroscopia por videocápsula endoscópica foi realizada. A videocápsula demonstrou, no intestino delgado, erosões e úlceras circunferenciais associadas a estenose tipo diafragma, achado patognomónico de enteropatia por NSAID. Estas lesões condicionaram atraso na progressão da cápsula, não se tendo visualizado o cólon durante o período de registo. Radiografia abdominal simples realizada 2 semanas após o procedimento confirmou a expulsão da cápsula.
Conclusões: A possibilidade de enteropatia por NSAID deve ser ponderada em doentes com anemia. A enteroscopia por videocápsula pode permitir o seu diagnóstico.