Introdução: Uma abordagem transanal recente foi introduzida para facilitar a mobilização do reto mais distal e superar as deficiências inerentes à excisão total do mesorreto laparoscópica.
Objetivo: Demonstrar a possibilidade de fazer a excisão total do mesorreto transanal (TaTME) em pacientes submetidos a tratamento prévio com quimiorradioterapia exclusiva para carcinoma espinocelular de canal anal.
Relato de caso: Homem, 53 anos, em 2005 relatou dor anal associada a sangramento e dificuldade evacuatória. Ao exame: fissura anal posterior; hemorroida externa às 3h e tumoração palpável a aproximadamente 1,5cm da margem anal, ocupava a parede anterior do reto inferior. Biópsia: carcinoma epidermoide moderadamente diferenciado. Colonoscopia: ileíte e colite crônica. Fez tratamento quimiorradioterápico exclusivo em 2006. Teve regressão completa da lesão. Em 2016, iniciou quadro de diarreia crônica e sangramento nas fezes. Colonoscopia: tumoração úlcero‐vegetante, estenosante, de cerca de 10cm, permitia passagem do colonoscópio com dificuldade, a aproximadamente 7cm da margem anal. Histopatológico: adenocarcinoma de baixo grau. RNM: espessamento em reto médio. CEA de 1,8. Foi submetido a retossigmoidectomia videolaparoscópica com dissecção de mesorreto por operação endoscópica transanal, colorretoanastomose e ileostomia de proteção. Evoluiu sem intercorrências no pós‐operatório. Histopatológico do espécime: adenocarcinoma retal moderadamente diferenciado, com invasão até tecido adiposo perirretal; margens cirúrgicas proximal e distal livres de neoplasia, sem invasão angiolinfática, perineural ou de linfonodos. Estadiamento patológico: ypT3pN0.
Discussão: A técnica do TaTME tem potenciais benefícios, como melhor qualidade do espécime cirúrgico, menor morbidade, menos conversões e mais preservação esfincteriana sem comprometer o prognóstico oncológico.
Conclusão: A excisão total do mesorreto é factível em pacientes que tenham feito esquema “Nigro” para tratamento do carcinoma espinocelular de canal anal.