Introdução: De uma maneira geral, as fístulas digestivas são vias de comunicação anômalas entre o tubo digestivo e outra estrutura, a qual pode ser a cavidade abdominal, uma víscera oca ou a pele. São, comumente, complicações de intervenção cirúrgica, apresentam gravidade elevada, ocasionando prolongamento de internações, alterações orgânicas e emocionais ao paciente. Este trabalho relata um caso de fístula externa íleo‐cutânea.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 58 anos, submetida a Laparotomia Exploratória por Abdome Agudo Obstrutivo devido a Doença de Crohn (DC), onde foi realizado enterectomia ileal de aproximadamente 40cm e ileostomia em dupla boca. Numa segunda abordagem objetivava a reconstrução do transito intestinal, todavia, não obtido sucesso devido edemas de alças, intenso processo fibrótico e formação de carapaça, compatível com resposta de processo inflamatório sugestivo de DC. Na porção distal do delgado foi realizado enterro‐entero anastomose latero‐lateral e proximal optou‐se por ostomia com dreno. Posteriormente foi observado que o conteúdo fecal estava sendo exteriorizado pelo dreno. Rapidamente evoluiu com deiscência de ferida operatória e formação de fístula íleo‐cutânea na ostomia que foi introduzido o dreno.
Discussão: As fístulas de intestino delgado podem apresentar mortalidade global de 15 a 25% e as taxas de fechamento espontâneo podem chegar a 40% a 70%. As complicações estão relacionadas com a sepse, alterações hidroeletrolíticas e à desnutrição. A maioria dos estudos mostra que até mesmo as fístulas de alto débito podem fechar espontaneamente com o tratamento conservador. O controle da sepse é passo fundamental e decisivo no tratamento de pacientes com fístulas enterro‐cutâneas pós‐operatórias. A principal causa de mortalidade nesses pacientes tem sido a infecção abdominal associada à disfunção orgânica múltipla. Estes pacientes apresentam sepse por infecção na parede abdominal, abscesso intracavitário e infecção sistêmica. A identificação e drenagem do foco infeccioso, associado ao uso de antimicrobianos aumentam a probabilidade de fechamento espontâneo da fístula e reduz os índices de mortalidade.
Conclusão: O presente caso merece destaque em função da sua complexidade e do difícil manejo clinico e cirúrgico, além do desfecho favorável, com melhora significativa do quadro clinico da paciente.