Introdução: Conceitua‐se fístula anal como processo inflamatório ou conexão entre a superfície epitelizada do canal anal com a pele perianal. O manejo tem como base, a drenagem da infecção local, com a erradicação do trajeto fistuloso e a preservação do esfíncter.
Descrição do caso: Paciente J.A.G., masculino, 68 anos, apresentando nódulo em região perianal esquerda com saída de exsudato purulento e sanguinolento, associado a incontinência fecal para fezes líquidas e perda ponderal de 10kg.
Ao exame físico: abaulamento em região perianal esquerda com exudação intermitente, presença de fístula anorretal com trajeto fistuloso anal posterior. À colonoscopia, colite intensa com úlceras e pseudomembranas em colón sigmoide, além de fístula anorretal com orifícios externos em região perianal com eliminação de pus e resíduos fecais, área de flutuação e sinais flogísticos, sendo indicado exploração cirúrgica. Realizado posicionamento de sedenho em trajeto fistuloso, com ressecção de orifícios externos com margem de 0,5cm.
Discussão: Os retornos foram planejados nas 1a, 2a, 6a, 9a e 13a semanas, tendo evolução estável, assintomático, continente para eliminação de sólidos, ferida operatória com tecido de granulação, com posterior cicatrização, e sedenho bem posicionado, sem sinais flogísticos. Ao anatomopatológico: presença de granulomas epitelióides com múltiplos ovos de Schistossoma mansoni viáveis e calcificados em trajeto de fístula e em pele adjacente. Aesquistossomose é uma patologia causada por infecção por parasitas sanguíneos, que vivem em certos tipos de caracóis de água doce. Tem como principais manifestações: a dor abdominal crônica ou intermitente, anorexia e diarréia. Em casos graves, ulceração crônica do cólon.Iniciado tratamento com oxamniquina 250mg, dose equivalente 15mg/kg. Ajuste do sedenho a partir do 90° DPO, seguindo ajustes quinzenais a fim de superficializar o orifício interno e realizar isquemia do esfíncter, até o 121° DPO quando o sedenho saiu espontaneamente. Exame parasitológico de fezes, com amostras negativas. Retossigmoidoscopia realizada em junho de 2018: exame proctológico com ausência de fístulas, ferida operatória cicatrizada e exame com presença de angiectasias em região de reto.
Conclusão: Ainda não há evidências científicas de relação causal entre a infecção parasitária pelo Schistossoma mansoni e o evento, fístula anal, apesar de ser extremamente possível. Porém, subsiste também a hipótese de afecções síncronas.