Introdução: Qualificada como uma doença inflamatória intestinal (DII), a doença de Crohn (DC) caracteriza‐se pelo caráter crônico, transmural e recidivante, que pode afetar qualquer porção do trato gastrointestinal, principalmente cólon e intestino delgado. Em sua forma penetrante e perianal, constitui‐se um agravante da doença, afetando não só a qualidade de vida do doente, mas como também risco de sepsis perineal e perda da função esfincteriana anal. As manifestações do Crohn perianal (CP) mais comuns são plicomas inflamatório, fissuras, úlceras, abscessos, fístulas, estenose anal e incontinência anal. A fístula reto‐uretral (FUR) é muito rara, geralmente conseqüente a cirurgias prostáticas ou retais, e mais raramente, a outros tipos de trauma, radioterapia e doença de Crohn.
Relato de caso: L.A.S., 27 anos, sexo masculino, com diagnóstico de DC pancolônica e de íleo terminal há 2 anos, evoluiu com manifestações perianais e saída de urina via retal. Foi submetido a uretrocistografia, a qual evidenciou suposta fístula reto‐uretral. Para confirmação, foi realizado exame proctológico sob anestesia (EPA): identificado vários plicomas inflamatórios e ulcerações na borda anal, e concomitante, foi feito a cistoscopia pela equipe da urologia, que se confirmou um trajeto fistuloso da uretra membranosa para a parede póstero‐lateral direita do reto. Diante dos achados, foi optado por antibiótico e corticoterapia na fase aguda da doença, na manutenção o uso de terapia anti‐TNF e após, em programação de uretroplastia cirúrgica.
Discussão: O Brasil ainda é considerado área de baixa prevalência de DII, mas apresenta aumento significativo da incidência destas doenças. O fato de não representarem entidades de notificação compulsória, somado ao seu difícil diagnóstico, leva a pensar na existência de muitos doentes subdiagnosticados. Com isso, muitos indivíduos mantém a doença sem controle, favorecendo o aparecimento de complicações, entre elas, as fístulas, que ocorrem em mais de 35% dos pacientes durante a evolução da doença. Em relação às manifestações do CP,a menos comum é RUF, pouco relatada na literatura. Os sintomas são fezes aquosas, fecalúria e pneumatúria, e o diagnóstico pode ser feito através de EPA, cistoscopia, TC com contraste via retal, e uretrocistografia miccional. A terapêutica das RUFs pode ser desde medicamentosa (ATBs, corticoides, terapia anti‐TNF) quanto cirúrgica, envolvendo uretroplastia, avanço de retalhos, cola de fibrina.