Introdução: Gangrena de Fournier é uma emergência cirúrgica, definida como fasciíte necrotizante de região perineal e genital. Trata‐se de infecção de etiologia polimicrobiana, com predomínio de bactérias Gram negativas e anaeróbias. A doença apresenta elevada morbimortalidade, sendo imprescindíveis não só abordagem inicial rápida e desbridamento extenso, mas também suporte e manejo das frequentes sequelas e complicações.
Relato do caso: Paciente masculino, 73 anos, portador de diabetes e hipertensão mal controlados, foi admitido com quadro de febre há 5 dias associado a hiperemia e dor em região perianal. Ao exame, apresentava edema e crepitações em região perineal, glútea esquerda e escroto. Área próxima ao ânus, com drenagem de secreção purulenta de odor fétido e necrose tecidual. Diagnosticado com gangrena de Fournier, iniciada antibioticoterapia e encaminhado para tratamento cirúrgico. Desbridamento amplo de região perineal e bolsa escrotal. Identificada perfuração de reto baixo com comprometimento esfincteriano. Optado pela realização de transversostomia em alça em mesmo tempo cirúrgico. Paciente evoluiu com melhora progressiva da ferida e controle da infecção.
Discussão: O paciente do caso apresenta história típica e alguns dos principais fatores de risco associados ao desenvolvimento da doença, como diabetes mellitus e abscesso perianal. A antibioticoterapia e o desbridamento cirúrgico foram realizados precocemente, no momento da admissão, já que a doença apresenta evolução rápida e grave. Durante o intraoperatório optou‐se pela realização da transversostomia. Na maioria dos casos, a colostomia não está indicada, tendo em vista as complicações inerentes a sua confecção (isquemia, infecção e evisceração) e o aumento da mortalidade nestes pacientes. Todavia, a presença de lesão esfincteriana, extensão da área de necrose perineal e perfuração retal são indicações presentes na literatura para minimizar a contaminação fecal da ferida.
Conclusão: A ostomia está associada a maior mortalidade e permanência hospitalar. Entretanto, tal constatação pode estar enviesada, por ser indicada nos doentes com pior prognóstico e lesões mais extensas.