Introdução: Os hamartomas císticos são vestígios embrionários do intestino posterior. Geralmente multiloculados e preenchidos por secreção espessa. São revestidos por epitélio colunar ou de transição.
Descrição: Paciente, mulher, 41 anos, queixa de desconforto ao sentar e endurecimento em região interglútea, solicitado US de região glútea, que evidenciou formação cística volumosa ocupando a fossa isquiorretal e isquianal à direita, além da região présacral, com extensão para a região glútea ipsilateral, sem comunicação com canal raquidiano, deslocando o reto e a vagina contralateralmente, medindo 104 x 87 x 97mm (378mL). Lesão com paredes lisas e regulares com conteúdo espesso sugerindo conteúdo hemático/hiperprotéico. Solicitado RM de pelve: grande lesão cística, de contornos lobulados de localização extraperitoneal na região pré‐sacral a direita, deslocando o reto inferior para a esquerda, medindo 11,6 x 8,6 x 8,1cm, contendo finos septos incompletos e estende‐se inferiormente pela fossa isquioanal direita, tendo contato com a extremidade medial da musculatura glútea direita. Sem comunicação com o saco tecal. Hipótese de hamartoma cístico. Ao toque retal: preenchimento de fossa isquioanal a direita, com mucosa lisa. Submetida a cirúrgia, com acesso pela incisão de Kraske, com exérese de cóccix para ampliação do campo cirúrgico e exérese da lesão. A biopsia: hamartoma cístico.
Discussão: Os hamartomas císticos retrorretais são raros, originadas por vestígios embriológicos do intestino posterior. São mais comuns em mulheres e são assintomáticas. Quando atingem dimensões maiores podem causar efeitos de massa local (lsintomas de constipação, sensação de evacuação incompleta, desconforto ao evacuar e proctalgia). A principal complicação é a infecção, com abscessos e fístulas. Chance de malignidade é estimada em 7%. Alterações no sacro e cóccix podem sugerir malignidade. A avaliação é feita pela TC e RM.
Conclusão: Geralmente são lesões císticas bem delimitadas, multilobuladas. A realização de biópsias é controversa, devido ao risco de contaminação e sangramento. O tratamento é cirúrgico. Operação de Kraske reservado para lesões posteriores e operação de York‐Mason quando há extensão para a parede retal. A abordagem mais realizada é pela incisão de Parks. Abordagem abdominal (combinada ou não com acesso perineal) é preferida em lesões altas, com características malignas.