Introdução: Hérnias perineais representam uma complicação de amputação abdominoperineal do reto em 0,6 a 1% dos casos. No geral, são assintomáticas, mas podem se apresentar com dor, disúria ou obstrução intestinal. Nesse caso, é indicado o reparo, que pode ser feito via abdominal, perineal ou mista.
Relato de caso: Paciente masculino, 62 anos, história de tumor de reto baixo operado havia seis anos, em seguimento oncológico, sem evidência de recidiva. Fora submetido a amputação abdominoperineal do reto e evoluiu com abaulamento em períneo. Referia incômodo e episódios de suboclusão. Ao exame, apresentava abaulamento em períneo posterior, redutível, de 10cm. A tomografia evidenciou hérnia perineal com alças de intestino delgado no saco herniário, sem obstrução ou sofrimento. Foi submetido ao reparo herniário eletivo.
Técnica cirúrgica: Com o paciente em posição de litotomia, foi feita incisão elíptica, seguida de dissecção do saco herniário. O conteúdo foi reduzido e o saco herniário mantido. O diâmetro do defeito era de 7 x 7cm. Os ligamentos sacroespinhosos, anococcígeo e o corpo perineal foram identificados e expostos. O remanescente dos músculos elevadores do ânus foi aproximado. O saco herniário foi interposto entre as alças e a tela. Uma tela de polipropileno de 10 x 10cm foi fixada com pontos simples nos reparos anatômicos descrito. Fechamento do subcutâneo e da pele, sem deixar dreno. O paciente evoluiu bem, com alta no segundo pós‐operatório. Não houve recorrência da hérnia em 24 meses.
Discussão e conclusão: Hérnias perineais são, usualmente, complicações de cirurgias extensas. O fechamento primário da parede pélvica, junto de medidas contra infecção, é importante na prevenção. O reparo permanece um desafio cirúrgico. Apesar de inúmeros métodos descritos, a abordagem ideal ainda não foi bem estabelecida devido à baixa prevalência. Relatamos a abordagem via perineal como uma técnica segura e efetiva e que pode ser executada com baixa morbidade e bons resultados.