Introdução: Hérnias perineais são raras e de etiologia multifatorial, podem ser congênitas ou adquiridas; essas, primárias ou secundárias (após cirurgia ou trauma). Caracterizam‐se por defeitos no assoalho pélvico onde se hernia conteúdo abdominal intraperitonial ou extraperitonial.
Relato de caso: Paciente feminina, 71 anos, sofreu queda da própria altura e chocou‐se contra o vaso sanitário; apresentou abaulamento glúteo à direita com dor local leve, sem alteração de hábito intestinal. Em exame proctológico observou‐se abaulamento em nádega direita redutível; ao toque retal, defeito em parede lateral direita imediatamente acima do anel anorretal, com herniação do reto em direção ao espaço isquiorretal. RNM de pelve com herniação do reto inferior/médio para a fossa isquioanal direita. Indicado tratamento cirúrgico, optou‐se pela via combinada abdominal e perineal. Dissecção do reto até o nível dos músculos elevadores do ânus, identificou‐se defeito de 4cm de diâmetro em lateral direita, cujo saco herniário continha o reto médio/inferior, que foi reduzido. Por via perineal, incisada nádega direita na topografia do abaulamento, com ressecção do saco herniário. Aproximação do defeito muscular com suturas de Vicryl® 3‐0 em pontos separados e fechamento da pele. Alocada tela de polipropileno na região pré‐sacral e no assoalho pélvico, fixada com grampeador automático (ProTack®).
Discussão: A hérnia perineal posterior secundária a trauma é entidade rara, sem incidência documentada na literatura. A dissecção perineal e a excisão do saco com sutura primária, apesar de mais simples, geralmente não são factíveis pela dificuldade de aproximar os bordos do defeito, especialmente quando se necessita interpor material protético ou tecidos autólogos. A abordagem via abdominal, apesar de mais invasiva, é preferível por permitir melhor visualização do defeito para mobilização e dissecção mais adequadas do saco herniário.
Conclusão: Abordagem mista nesses tipos de hérnia é factivel e apresenta bons resultados.