Introdução: Catástrofe abdominal é condição clínica importante, de alta mobimortalidade, geralmente ocorrida durante o tratamento de desordens abdominais não traumáticas, definida como peritonite originada em víscera. Inclui, além de peritonite secundária, sinais de sepse, síndrome compartimental abdominal, formação de fístulas enterocutâneas e aderências. A maioria dos casos requer intervenções cirúrgicas – laparotomias programas/sob demanda. Período pós‐operatório deve ser feito em regime de tratamento intensivo para estabilizar o paciente, fornecer apoio metabólico, nutricional e tratamento adequado da sepse.
Descrição do caso: Paciente, 58 anos, chagásico, admitido por volvo de sigmoide associado a sepse. Feita sigmoidectomia com anastomose primária, evoluiu com deiscência de anastomose e peritonite fecal. Reabordado diversas vezes por peritonite purulenta, deixado em peritoniostomia devido a abdômen congelado e fístula entérica sem possibilidade de orientação. Conseguiu‐se então exteriorizar 20cm de alça intestinal. Devido a importante retração da musculatura abdominal, não foi possível a ostomia, foram usados curativo a vácuo e placa de hidrocoloide para isolamento da cavidade e reconstrução de parede abdominal. Atualmente, segue sob cuidados da equipe, com melhoria importante da quantidade de secreção purulenta abdominal, porém ainda necessita de abordagens programadas.
Discussão: O adequado manejo da catástrofe abdominal tem evoluído progressivamente desde o início do século, porém permanece um desafio para cirurgiões. A possibilidade de acesso à cavidade abdominal de maneira recorrente pode diminuir a mortalidade de 87% para 30%, de acordo com dados da literatura. Por serem pacientes graves, é importante evitar abordagens prematuras ou desnecessárias, sem, contudo, postergar o ato cirúrgico.
Conclusão: Manejo de catástrofe abdominal exige grande comprometimento da equipe para com o paciente, é de difícil realização. Uso de tecnologias, como o curativo a vácuo, e laparotomias programadas em pacientes nessa situação permite o melhor manejo clínico‐cirúrgico, controla o foco de infecção intra‐abdominal e permite alcançar condições adequadas para a resolução do caso.