Introdução: A neoplasia intraepitelial anal (NIA) parece ter forte associação com o vírus HPV e é possivelmente a lesão precursora do carcinoma anal. Seu diagnóstico é histológico, sendo realizado através da colposcopia e citologia anal, que vem sendo realizada em alguns centros para rastreamento especialmente de populações de alto risco (como os imunossuprimidos e portadores do vírus HIV). Este diagnóstico pode também, raramente, advir do estudo histopatológico de peças cirúrgicas provenientes do canal anal. Nosso objetivo é relatar um caso de diagnóstico histológico de NIA em paciente submetida a hemorroidectomia.
Descrição do caso: Paciente feminina, 47 anos, advogada, veio ao ambulatório de Coloproctologia por queixa de abaulamento perianal doloroso e sangramento retal frequente, vivo, há mais de 1 ano. Previamente hígida, negava cirurgias prévias. Ao exame, a paciente apresentava plicomas e hemorroidas externas volumosas, circunferenciais e hemorroidas internas grau IV. Não haviam outras lesões macroscópicas e a paciente não possuía histórico de quaisquer lesões verrucosas perianais e/ou ginecológicas. Negava histórico de neoplasias ginecológicas. Citologia do colo uterino realizada periodicamente e sem alterações. A paciente foi submetida a hemorroidectomia pela técnica de Ferguson – realizadas ressecções dos mamilos hemorroidários anterior direito, posterior direito e lateral esquerdo, sem intercorrências. Teve boa evolução pós‐operatória e recebeu alta no pós‐operatório imediato com orientações. O exame anatomopatológico das peças cirúrgicas evidenciou neoplasia intraepitelial associada ao tecido hemorroidário, com displasia de alto grau no epitélio escamoso de superfície.
Discussão e conclusão: Acredita‐se que entre 8,5% e 13% das NIA de alto grau evoluirão para carcinoma invasivo, indicando necessidade de rastreamento e seguimento desses pacientes. O rastreamento ainda não está bem estabelecido e costuma ser reservado às populações consideradas de alto risco. Entretanto, este diagnóstico pode ocorrer incidentalmente, como no caso descrito, mesmo em populações sem fatores de risco. Desta maneira, destacamos a importância do envio para exame anatomopatológico de todas os produtos de ressecção hemorroidárias e das demais cirurgias orificiais, para que não haja atraso ou falha no diagnóstico.