Introdução: O câncer colorretal é atualmente um dos tumores malignos mais comuns no mundo, sendo a localização no reto a mais frequente. Uma dificuldade nessa localização se faz nos casos próximos à borda anal e se pesa a realização de cirurgia mutiladora. Inúmeras alternativas já foram propostas para as lesões de reto baixo com o objetivo de preservação do esfíncter. Com a instituição de terapia neoadjuvante (radioquimioterapia) uma nova variável foi introduzida a essa equação. A observação dos bons resultados da neoadjuvância em alguns casos, inclusive com resposta patológica completa, suscitou a elaboração de trabalhos a respeito ‐ notadamente os estudos pioneiros de “Watch and Wait” desenvolvidos no Brasil. Desta forma nos cabe a pergunta: O que fazer diante da resposta clínica completa após neoadjuvância?
Descrição do caso: W.P.C., masculino, 57 anos, diagnosticado com tumor de reto a 3cm da borda anal em 2015, indicado terapia de neoadjuvante. Concluiu radio e quimioterapia em setembro de 2015, apresentando resposta clínica completa. Optou‐se por acompanhamento clínico, pois o paciente mostrou‐se resistente a cirurgia mutiladora. Após 1 ano e 5 meses apresentou recidiva do tumor a 4cm da borda anal em parede anterior direita. Foi submetido a cirurgia de ressecção de reto com anastomose coloanal e ileostomia de proteção em 24/04/2017. Não houve indicação de quimioterapia adjuvante, sendo acompanhado para fechamento de ileostomia. Apresentou estenose da anastomose coloanal e foram realizadas dilatações em ambulatório. Em janeiro de 2018 apresentou elevação do CEA e imagem no PET SCAN sugestiva de recidiva pélvica sendo indicado cirurgia de Miles.
Discussão: A observação de resposta clínica completa e a divulgação ampla de trabalhos sobre o tema nos coloca cada vez mais diante da dúvida sobre como agir frente a um paciente portador de patologia inicialmente tratável por cirurgia de Miles e que, no momento, não se apresenta mais com o tumor. Até quando indicar a cirurgia e até que ponto devemos levar em consideração a opinião do paciente sobre a sua escolha terapêutica frente a uma resposta clínica completa após neoadjuvância. Nesse caso apresentado observamos a recidiva tumoral por duas ocasiões: 1 ano e 5 meses e 2 anos e 3 meses após neoadjuvância. Teríamos ajudado mais fazendo a cirurgia desde o princípio?
Conclusão: Ainda não existem indicações definitivas sobre a melhor opção de tratamento após a resposta clínica completa da neoadjuvância.