Introdução: Tumores neuroendócrinos (TNEs) do reto representam 34% das neoplasias neuroendócrinas gastrointestinais e possuem bons índices de sobrevida global, porém o papel da cirurgia do sítio primário em casos estádio IV, quanto ao impacto na sobrevida ainda não é bem estabelecido.
Descrição do caso: M.S.O., 47 anos, sexo feminino, há 18 meses com dor em cólica no abdome inferior e perda ponderal de 12kg em 6 meses. TC tórax, abdome e pelve com múltiplas lesões hepáticas heterogêneas hipovascularizadas (segmentos VIII, V e IV) e nódulo sólido hipervascularizado de 2cm no segmento VI, além de espessamento parietal focal no reto a 7cm da borda anal e linfonodomegalia regional. Biópsia da lesão hepática consistente com TNE metastático. RNM de pelve identificou lesão expansiva medindo 2cm, a 5,5cm da borda anal, margem distal acima do anel anorretal. Colonoscopia com lesão de aspecto subepitelial, com biópsia confirmando o sítio primário. Após o diagnóstico de TNE metastático, realizou quimioterapia com Ocreotide LAR 20mg/dia, evoluindo com progressão das lesões hepáticas e manutenção dos sintomas gastrointestinais, sendo encaminhada ao serviço de Coloproctologia. Submetida a retossigmoidectomia VLP através da dissecção médio lateral do mesentério, com ligaduras da artéria e veia mesentéricas inferior, seguida de excisão total do mesorreto. Anastomose coloanal com grampeador CDH 29 a 2cm da BA. Drenada pelve com realização de ileostomia de proteção. Anatomopatológico de tumor neuroendócrino de baixo grau, positividade para cromogranina, sinaptofisina e KI67 < 2%. Paciente apresentou boa evolução pós‐operatória, recebeu alta no 6° PO. Retorno ambulatorial com melhora dos sintomas e boa adaptação a ostomia.
Discussão: Os TNE retais possuem prognóstico favorável com sobrevida em 5 anos de até 72%. A síndrome carcinoide é rara na doença colorretal, sendo o tratamento de escolha os análogos de somatostatina. Em tumores de baixo grau com metástases, principalmente hepática, uma ressecção paliativa com linfadenectomia apresenta nível de evidência 1 na literatura, visto que tais pacientes podem necessitar de ressecção por obstrução ou sangramento. O transplante hepático é uma opção terapêutica, desde que na ausência de doença extra‐hepática e que o tumor primário seja removido antes do transplante.
Conclusão: A ressecção do sitio primário em TNE metastático deve ser considerada, a fim de evitar potenciais complicações e na perspectiva curativa do transplante hepático.