Introdução: A paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica endêmica na América Latina, causada pelo Paracoccidioides brasiliensis, com incidência média de um a três casos por 100 mil habitantes. O principal órgão acometido é o pulmão, com lesões anais em apenas 1,3 a 2,4% dos casos. Sua patogênese não está claramente estabelecida, pode ser secundária a doença disseminada ou localizada. Demonstramos ocorrência de PCM em canal anal que simula neoplasia, uma apresentação rara, mesmo em áreas endêmicas.
Descrição do caso: Homem, 65 anos, lavrador, aposentado, ex‐tabagista e ex‐etilista, com história pregressa de PCM pulmonar havia 32 anos, apresentava havia dois dias dor e distensão abdominal, com parada de eliminação de fezes e gases. Relatava também astenia e dispneia havia seis meses. O toque retal evidenciou lesão vegetante estenosante em canal anal, suspeitou‐se de neoplasia. Feitas biópsia e sigmoidostomia em alça, com boa evolução pós‐operatória. O histopatológico demonstrou PCM e ausência de células neoplásicas. Iniciado tratamento com anfotericina B. Após o tratamento com o antifúngico apresentou melhoria das queixas abdominais e anais. Novo exame proctológico evidenciou deformidade anal; hipotonia esfincteriana, com abaulamento em parede retal, porém com mucosa lisa; anuscopia com friabilidade da mucosa, sem lesões vegetantes. Colonoscopia demonstrou estreitamento do canal anal por alterações cicatriciais. Lavado broncoalveolar negativo para BAAR, fungos e células neoplásicas.
Discussão: A manifestação anal da PCM é caracterizada por lesão ulcerada endurecida, afeta frequentemente a hemicircunferência. A colonoscopia é variável, pode apresentar manifestação colônica difusa, lesões granulomatosas ulceradas, áreas de estenose e mucosa friável. O diagnóstico diferencial inclui lesões granulomatosas e neoplasia. Devido ao pequeno número de pacientes que apresentam PCM anorretal, não há descrita uma avaliação sistematizada.
Conclusão: A PCM de canal anal é uma apresentação rara dessa doença. Apresenta manifestações exuberantes, porém com boa resposta com terapia antifúngica, pode deixar sequelas com prejuízo à qualidade de vida.