Introdução: A permanência do abdome aberto após intervenção cirúrgica (peritoniostomia) é indicada em casos de peritonite difusa, quando não há controle completo da infecção, trauma abdominal, hemorragias intra‐abdominais, isquemia mesentérica, pancreatite aguda grave e síndrome compartimental abdominal. O objetivo é relatar um caso de apendicite aguda complicada, que evoluiu com perda de domicílio, peritoniostomia e múltiplas reabordagens.
Descrição do caso: Homem, 21 anos, no 48° pós‐operatório de apendicite aguda grau IV. Sob cuidados de terapia intensiva e com obstrução intestinal. O abdome se encontrava em peritoniostomia e as alças de delgado distendidas, com aderências firmes e perda de domicílio.Optado por reabordagem e realizado lise parcial das aderências do delgado para confecção de ileostomia em alça e jejunostomia descompressiva. O fechamento temporário da aponeurose foi feito com tela ventral de dupla face (polipropileno/e‐PTFE). Pele e subcutâneo foram mantidos abertos. Houve necessidade de múltiplas revisões e remoção da tela por contaminação após 15 dias. Recebeu alta para enfermaria no 77° dia de internação. Evoluiu com fístula enterocutânea no 123° dia de internação hospitalar, sendo submetido à rafia e novas revisões. Permaneceu internado por 8 meses e recebeu alta hospitalar com fístula enterocutânea de baixo débito com necessidade de 3 curativos diários, ileostomia em alça funcionante, com boa aceitação da dieta e deambulando. Manteve seguimento ambulatorial com fechamento da fístula enterocutânea e reconstrução do transito intestinal.
Discussão: A peritoniostomia esta associada complicações como: fístulas entéricas, abscessos abdominais, evisceração com perda de domicilio e hérnias abdominais. O fechamento do abdome deve ser feito o mais breve possível. A taxa de mortalidade é elevada e depende de diversos fatores, como comorbidades e gravidade da condição que o levou à peritoniostomia. Há várias técnicas de fechamento temporário do abdome e as mais realizadas envolvem o uso de compressas ou telas, com ou sem pressão negativa. Os fatores preditores para fechamento tardio são: nutrição enteral, disfunção orgânica, infecção local ou sistêmica, número de reintervenções e aparecimento de fístulas.
Conclusão: A peritoniostomia pode ser utilizada de forma temporária nas catástrofes abdominais e a recuperação dos pacientes requer empenho da equipe cirúrgica.