Área: Doenças Anorretais Benignas
Categoria: Relatos de caso
Forma de Apresentação: Pôster
Objetivo(s): Relatar um caso raro de proctite isquêmica, sem fator precipitante evidente.
Descrição do caso: Mulher, 79 anos, sexo feminino, hipertensa, dislipidêmica e portadora de fibrilação atrial, com passado de adenocarcinoma gástrico. Iniciou quadro insidioso de dor retal e alteração do hábito intestinal, oscilando entre obstipação e esforço evacuatório com períodos de diarreia, com hematoquezia associada. Evoluiu, após cerca de três meses, com semioclusão intestinal e dor abdominal difusa, necessitando internação hospitalar. Tomografia e ressonância magnética de pelve evidenciaram espessamente parietal circunferencial do reto, com edema de submucosa e estreitamento da sua luz. Retossigmoidoscopia mostrou redução abrupta da luz retal, a cerca de 6,0cm da borda anal, com edema e hiperemia de mucosa, impedindo a progressão do aparelho. Anatomia patológica mostrando apenas processo inflamatório inespecífico. Apresentou melhora do quadro após medidas clínicas, recebendo alta hospitalar. Em avaliação ambulatorial, apresentava 6‐8 evacuações diárias, com grande esforço e fezes afiladas, sem sangue ou muco. Ao toque retal, identificada área de estenose endurecida a 5cm da borda anal, recoberta por mucosa íntegra. A paciente foi então submetida a exame proctológico sob sedação, que evidenciou afilamento retal significativo, endurecido, sem lesões elevadas ou ulceradas. Realizada então dilatação retal e biópsias da estenose. O estudo anatomopatológico foi compatível com proctite isquêmica, sem sinais de malignidade. Evoluiu com melhora significativa do ritmo intestinal, com dejeções diárias (2‐3 vezes/dia) e sem esforço evacuatório. Segue em acompanhamento ambulatorial, sem novas queixas.
Discussão e Conclusão(ões): A proctite isquêmica é uma condição rara, devido ao excelente suprimento sanguíneo do reto. Embora possa ser decorrente de oclusão arterial aguda, é mais comum em pacientes idosos, com doença ateromatosa difusa, em estados graves e de baixo fluxo. Os sintomas mais comuns são dor e sangramento, sendo a estenose um sinal tardio da doença. O diagnóstico diferencial deve ser feito com doenças inflamatórias e infecciosas, sendo o definitivo dado através do estudo anatomopatológico. Embora o tratamento, na maioria dos casos, seja de suporte, voltado à condição de base e à sintomatologia, alguns pacientes necessitam de proctectomia e colostomia, como na proctite gangrenosa, devido à alta taxa de mortalidade. Portanto, embora incomum, o diagnóstico de proctite isquêmica deve ser aventado em pacientes idosos e com múltiplas comorbidades, na presença de dor retal e hematoquezia. Descrevemos uma apresentação rara da doença, sem fator precipitante claro.