Introdução: As lacerações perineais no trauma vaginal são incomuns, porém de grande impacto funcional e psicossocial na mulhere. A laceração perineal varia desde grau 1, em que ocorre apenas lesão de pele, até grau 4, onde há ruptura total dos esfíncteres externo e interno. A lesão esfincteriana pode ocorrer até em lesões menores e os sintomas podem surgir até 1 ano após o trauma perineal em até 50% dos casos.
Relato de caso: T.D.R., 20 anos, G1P1, deu entrada no ambulatório de Coloproctologia do no serviço de Coloproctologia do Hospital Municipal Santa Isabel (HMSI), em João Pessoa, PB, com queixa de incontinência fecal há 1 ano, após parto vaginal, que levava a impacto social e emocional, visto que não conseguia exercer atividades laborais e nem manter intercurso sexual com o companheiro desde então. O parto ocorreu há 1 ano e 2 meses, com 12 horas de duração e com indução e sem realização de episiotomia. A laceração foi identificada imediatamente após o parto, onde foi reparada pela equipe de obstetrícia, porém com deiscência completa da sutura após 7 dias, devido à infecção (SIC). Com laceração perineal grau 4 (cloaca), indentificando pequeno reparo em mucosa retal, remanescente da reconstrução primária. Foi proposto fisioterapia do assoalho pélvico 6 meses antes do tratamento cirúrgico com intenção de obtenção de melhor resultado intra e pós‐operatório, com boa resposta, sendo posteriormente submetida a reconstrução perineal com esfincteroplastia pela técnica de “overlap”, sem intercorrências. No primeiro mês de pós‐operatório, não houve intercorrências ou complicações, com boa resposta e melhora da incontinência para flatos e fezes.
Discussão e conclusão: A maioria das mulheres dá à luz sem nenhum dano perineal ou retal significativo. No entanto, em cerca de 1 a 4% dos nascimentos há danos esfincterianos e perineais que podem causar problemas consideráveis em termos de dor, incontinência e dispareunia. A incontinência pode impactar significativamente em suas vidas diárias e relacionamentos e causar aumento de custos para os serviços de saúde. Portanto, a importância de uma boa avaliação do assoalho pélvico e dos fatores de risco para laceração perineal, como a desproporção céfalo‐pélvica, a fim de diminuir o índice de lacerações perineais por partos vaginais.