Introdução: A tuberculose é uma doença prevalente no Brasil. As formas extrapulmonares são mais raras (apenas 5% dos casos). A região perianal não é poupada pela doença, sendo descrita com frequência inferior a 1% dos casos. Em geral ocorrem ulcerações crônicas, secreção perianal persistente e dor local.
Descrição do caso: Paciente feminina, 34 anos, portadora do vírus HIV desde 2003, em uso regular de terapia antirretroviral. Em 2004 iniciou com quadro de secreção fecalóide via vaginal e ulceração crônica perianal. Através de biópsia e PCR para Mycobaterium tuberculosis foi diagnosticada tuberculose perianal e fístula retovaginal secundária.
Optado na ocasião por tratamento clínico e realização de sigmoidostomia em alça para desvio do trânsito intestinal. A paciente evoluiu com melhora da sintomatologia, apesar de permanecer com úlcera perineal crônica. Teve 2 gestações neste período e manteve o estoma em alça com bom funcionamento. Em 2017 exame sob sedação evidenciou úlcera anal crônica recoberta por tecido de granulação, parcialmente epitelizada se estendendo até a região coccígea, medindo 2 x 4cm, com exposição do aparelho esfincteriano do quadrante posterior direito. Haviam lesões de aspecto verrucoso na linha média posterior e persistência de fístula retovaginal próxima ao introito vaginal. Biópsias da região evidenciaram PCR negativo para Mycobacterium tuberculosia. Foi realizada exérese das lesões verrucosas e a histopatologia confirmou doença de Bowen.
Após 6 meses foi optado por reconstrução perineal cirúrgica, em conjunto com a equipe da cirurgia plástica. Foi realizada perineoplastia, exérese dos trajetos fistulosos e fechamento da úlcera através de retalhos cutâneos do glúteo. A paciente teve boa evolução pós‐operatória e está programando fechamento da colostomia.
Discussão e conclusão: A tuberculose extrapulmonar é rara. Embora as manifestações anorretais representem menos de 1% dos casos, seu diagnóstico é muitas vezes difícil e pode se confundir com o da doença de Crohn. O tratamento é clínico, mas a cirurgia deve indicada nos casos de fístulas ou abscessos. O tratamento cirúrgico pode ser complexo e, como no caso apresentado, há benefício da equipe multidisciplinar.