Introdução: O tratamento do carcinoma do canal anal evoluiu nos últimos 30 anos. Até a década de 70, o tratamento era através de procedimentos cirúrgicos que removiam o esfíncter anal. Desde então, numerosos ensaios clínicos têm sido realizados, nos quais os pacientes são tratados com radioterapia e quimioterapia em diversos esquemas, sendo a cirurgia reservada para casos de falha ou com doença grave e destrutiva do esfíncter anal. Os Guidelines atuais recomendam avaliar resposta ao tratamento entre 8 a 12 semanas. Apresentamos aqui um caso de resposta tardia.
Descrição do caso: Paciente feminino, 55 anos, hipertensa, diabética e tabagista ativa. Há 6 meses com história de dor anal e aumento da frequência evacuatória, com sangramento eventual, associado a perda de 3kg. Ao exame proctológico, lesão a 2cm da margem anal em parede posterior, endurecida com cerca de 2,5cm. O estudo colonoscópico até a válvula ileocecal revelou‐se normal e foi realizado biópsia da lesão descrita, cujo anatomopatológico foi de carcinoma epidermoide invasor moderadamente diferenciado. Em exames de estadiamento, alteração em ressonância de pelve, espessamento e hipoecogenicidade do reto, terço médio/inferior, numa extensão de 3,8cm, espessura de 2,8cm e 2,3cm. Alguns linfonodos inguinais, bilateral. Em set/16 iniciou tratamento com 5‐FU e Cisplatina infusional e radioterapia com boost de radio após 54Gy (total 59,4Gy). Apresentava má adesão ao tratamento. Terminou as sessões em dez/16. No exame físico constatou‐se aumento da lesão. Em fev/17 tinha‐se plano de amputação abdominoperineal. Porém enquanto realizava exames pré‐operatórios, foi indicado cirurgia de revascularização miocárdica, mas paciente evadiu do hospital. Retornou em abril/17e realizou procedimento cardíaco. Em ago/17 não queria realizar cirurgia proctológica. Retornou em set/17 com desejo de realizar a cirurgia. Enquanto realizava avaliação pré‐operatória desistiu novamente. Em nov/17 foram realizadas biópsias, ausência de neoplasia em 9 amostras. Última consulta em jun/18, sem sinais de recidiva.
Discussão e conclusão: Ainda existem controvérsias sobre o melhor momento para se avaliar resposta ao tratamento com quimio e radioterapia. A recomendação é de que se avalie a resposta em 8 a 12 semanas, no nosso caso apresentou resposta completa bem mais tardia. Estudos recentes demonstram casos de regressão lenta e contínua por até 26 semanas, demonstrando que alguns pacientes acabam realizando cirurgia desnecessária.