Introdução: Esquitossomose é uma doença infecto‐contagiosa causada por helmintos do gênero Shistossoma, sendo o S. mansoni o agente responsável pela doença no Brasil. A sintomatologia pode variar. No período inicial o paciente pode apresentar desde febre, diarréia, cefaléia, astenia, dor abdominal, hematoquezia, até ser assintomática. Em casos com grande carga parasitária pode ocorrer a forma pulmonar micronodular com disseminação dos ovos nos pulmões ou a infecção pode se tornar invasiva, com quadro clínico de abdômen agudo com ascite e grande distensão abdominal.
Relato do Caso: Paciente, sexo masculino, 28 anos, natural de Alagoas, procedente de Jundiaí‐SP, deu entrada no pronto socorro com dores em hipogástrio associadas a vômitos há um mês com piora progressiva da dor e posterior migração para fossa ilíaca direita há uma semana. Ao exame físico apresentava‐se estável com dor a palpação de fossa ilíaca direita, sem sinais de peritonite. A tomografia de abdome total mostrou sinais inflamatórios localizados em fossa ilíaca direita envolvendo íleo terminal e ceco associados a coleção local sugerindo processo inflamatório/infecciosos. A laparotomia exploradora que evidenciou sigmoide aderido ao ceco, espessamento do íleo terminal e sinais inflamatórios crônicos não permitindo a visualização do apendice cecal. Ressecado linfonodo localizado junto ao íleo terminal e apendice epiploico sigmoideano. O exame anatomopatológico descreveu linfadenite crônica reacional no linfonodo e processo inflamatório crônico granulomatoso envolvendo material refringente consistente com ovo de esquistossoma no apêndice epiploico. Paciente com boa evolução clínica, liberado com orientações para uso de Praziquantel e acompanhamento ambulatorial.
Discussão: Casos de esquitossomose com repercussão clínica de abdome agudo inflamatório (AAI) são raros. O paciente apresentava clínica sugestiva de AAI e intraoperatório condizente com inflamação difusa intestinal. A escolha no ato cirúrgico da não manipulação excessiva das alças, optando‐se por uma conduta conservadora com biopsia linfonodal e dos apêndices epiploicos, ao invés da realização de apendicectomia propriamente dita (visto apendicite aguda ter sido a hipótese diagnóstica inicial que levou o paciente a ser abordado). Tal escolha levou ao diagnóstico definitivo e ao melhor tratamento para o doente, sem intervenções excessivas para o mesmo, que não lhe trariam benefício.