Introdução: A neoplasia colorretal durante a gestação é uma entidade rara, que teve seu primeiro registro na literatura em 1842 e atualmente alcança incidência anual em torno de um caso a cada 13.000 partos. Atraem atenção pela alta complexidade e também por serem situações dramáticas, em que o manejo envolve riscos para a gestante e para o feto.
Descrição dos casos:Primeiro caso: Gestante de 28 anos, na 26a semana de gestação, apresentando hematoquezia e alteração de hábito intestinal, com diarreia e constipação intercaladas. À colonoscopia, lesão vegetante, ulcerada e friável em reto médio, compatível com adenocarcarcinoma. Foi submetida à cesárea eletiva com 34 semanas pelo volume tumoral e sangramento. Um mês após o parto apresentou abscesso perianal e foi submetida à drenagem e confecção de ileostomia. Iniciou‐se terapia neoadjuvante (FOLFOX+radioterapia), e, após, retossigmoidectomia (yT3 yN0, R0). Seguiu com adjuvância, e, sem evidência de doença, realizou‐se o fechamento da ileostomia. Segundo caso: Gestante de 34 anos, 30 semanas de gestação, apresentando hematoquezia, diarreia, perda ponderal e dor pélvica. Ao toque retal, palpava‐se massa endurecida a 4cm da margem anal, confirmada pela colonoscopia ‐ lesão em reto médio – adenocarcarcinoma ulcerado, moderadamente diferenciado. Foi submetida à cesárea com 32 semanas por oligodramnia. Após resolução do período gestacional, encaminhada à neoadjuvância (capecitabina+radioterapia), que está em curso atualmente.
Discussão: As neoplasias colorretais assumem características especiais em gestantes, não havendo consenso entre a influência hormonal e evolução tumoral. Seu diagnóstico pode ser desafiador, sendo confundido muitas vezes com doença hemorroidária (assim como ocorreu com as pacientes relatadas), e pode ser tardio, já que muitos sinais e sintomas podem ser atribuídos à gestação, tais como sangramento digestivo baixo e alteração de hábito intestinal. Sendo assim, exame físico, colonoscopia e ressonância magnética são fundamentais. Intervenções de qualquer tipo precisam ser muito cuidadosas, tendo em vista a teratogenicidade. O tratamento é individualizado, assim como a via de parto, mas em geral opta‐se por cirurgia pós‐parto em caso de diagnóstico a partir do segundo trimestre.
Conclusão: O câncer colorretal é de baixa incidência em gestantes, com diagnóstico tardio, mas que necessita toda atenção tendo em vista o binômio materno‐fetal.