Resumo: A ressecção endoscópica de lesões com componente cicatricial (recidivadas ou parcialmente ressecadas) está relacionado à maior dificuldade técnica, maior taxa de eventos adversos e menor taxa de ressecção em monobloco. Nesse contexto, a dissecção submucosa endoscópica (ESD) através da técnica de pocket‐creation method (PCM) pode ser útil. A técnica consiste em fazer pequena incisão marginal e dissecar a submucosa abaixo da lesão quase na totalidade, terminando a incisão da mucosa normal que contorna a lesão apenas ao final do procedimento.
Descrição do caso clínico: A.D.J., 65 anos, sexo masculino e sem comorbidades, apresentou alteração do hábito intestinal, que motivou investigação diagnóstica. Realizou colonoscopia que evidenciou lesão de crescimento lateral (LST) granular nodular em reto, a 8cm da borda anal. Foi realizada macrobiópsia com alça de polipectomia da parte nodular da lesão. Anatomopatológico da macrobiópsia evidenciou adenoma tubuloviloso com displasia de baixo grau. Paciente foi encaminhado para serviço oncológico de referência, sendo submetido a colonoscopia com magnificação que evidenciou extensa LST granular nodular em reto, com retração cicatricial central, ocupando 70% da circunferência do órgão, medindo aproximadamente 12cm, e com padrão de criptas tipo Vi (não invasivo).Foi indicada ressecção local através de ESD, pela técnica de PCM que transcorreu sem intercorrências. Paciente evoluiu bem e recebeu alta no 20 dia pós‐operatório. Anatomopatológico do espécime dissecado: adenoma túbulo‐viloso com displasia de alto grau, tamanho total de 12cm no maior eixo, invasão angiolinfática ausente e margens de ressecção livres de neoplasia.
Discussão: A técnica de PCM consiste na dissecção endoscópica do plano submucoso sem abertura da mucosa periférica da lesão na totalidade, o que impede a dispersão do fluido injetado, permite o acesso tangencial da muscular própria e estabiliza o endoscópio dentro do pocket . No caso descrito, a técnica de PCM foi fundamental para viabilizar a ESD de lesão com histórico de ressecção parcial. Nas áreas de fibrose intensa, a manutenção da camada submucosa espessa e possibilidade de tração dos tecidos com a extremidade do endoscópio permitiu a dissecção endoscópica com segurança.
Conclusão: A ressecção através de ESD de neoplasia precoce de reto com antecedente de manipulação prévia e fibrose submucosa intensa é facilitada pela técnica de PCM.