Introdução: A principal etiologia de fístulas reto‐vaginais são causas obstétricas, seja por trabalho de parto prolongado, com necrose do septo retovaginal, falha no reparo de laceração perineal, lesão não reconhecida no momento do parto ou complicações de episiotomias. Outras causas importantes são doença de Crohn, radioterapia e cirurgia pélvica oncológica. O presente trabalho relata o caso de paciente com fístula retovaginal recidivada, com múltiplas abordagens prévias, destruição da pele perineal do septo reto‐vaginal, submetida a correção com retalho de Martius e retalho de avanço de pele total.
Descrição do caso: Sexo feminino, 39 anos, hipertensa, com história de fístula retovaginal após parto normal em 2009, já submetida a 4 cirurgias para reconstrução, sem sucesso. Evoluiu com manutenção do trajeto fistuloso a cerca de 1cm da borda anal e afilamento do corpo perineal, com exposição do esfíncter externo do ânus, porém sem aparente lesão esfincteriana evidente. Submetida a retalho de Martius esquerdo com correção do trajeto fistuloso e retalho de avanço de pele total à direita para reconstrução do corpo perineal. Paciente evoluiu bem no pós operatório, sem áreas de deiscências. Em acompanhamento ambulatorial evidenciada resolução da fístula retovaginal.
Discussão: Há várias opções técnicas reconstrutoras utilizadas na correção de fístulas retovaginais. A escolha da técnica empregada varia de acordo com a etilogia da fístula, localização, tamanho, tentativas prévias de abordagem, qualidade do tecido circunjacente e comorbidades apresentadas pela paciente. A ténica de Martius é a confecção de um retalho músculo‐adiposo do músculo bulbocavernoso obtido a partir da incisão e dissecção do grande lábio até o nível da fáscia com preservação de seu pedículo vascular inferior. É confeccionado um túnel subcutâneo lateralmente por onde então é transposto o retalho e posicionado no defeito do septo retovaginal. Posteriormente é procedida síntese do canal vaginal. O retalho de Martius proporciona a interposição de tecido sadio, vascularizado para a área reconstruída e tem se mostrado como excelente opção terapêutica nos casos recidivados.
Conclusão: Fístulas retovaginais recidivadas e complexas constituem ainda um desafio cirúrgico. O retalho de Martius mostra‐se como uma opção consistente no manejo desses casos, com baixa morbidade e bom resultado estético e funcional.