Introdução: A introdução da amputação abdominoperineal extraelevadora do reto (AAP‐EE) visa determinar espécimes cirúrgicos com menor incidência de margem circunferencial positiva. Apesar do benefício oncológico e menor incidência de margens acometidas, essa técnica resulta na confecção de maior defeito perineal e, portanto, maior incidência de complicações precoces, como cicatrização retardada, seromas e abscessos, e complicações tardias, especialmente a hérnia perineal.
Dentre várias técnicas propostas para o fechamento do períneo, a interposição de retalhos musculares ou miocutâneos possibilitam o fechamento do defeito perineal sem tensão e com um tecido de boa viabilidade.
Descrição do caso: Paciente do sexo masculino, 54 anos, admitido com quadro de dor anal e lesão vegetante em topografia de borda anal, com lesão tocável até cerca de 5cm da margem anal. Biópsia compatível com adenocarcinoma e estadiamento local com neoplasia localmente avançada, acometendo complexo esfincteriano e fossa ísquio‐anal, com cerca de 7 linfonodos aumentados em gordura mesorretal. Estadiamento à distância com tomografia computadorizada sem sinais de implantes secundários. Após discussão multidisciplinar, foi submetido à quimioterapia e radioterapia neoadjuvantes, com dose total de 5040cGy. Em virtude de múltiplas cirurgias abdominais prévias, foi optado pela AAP‐EE por via laparotômica, 8 semanas após o término da neoadjuvância. Após o tempo abdominal do procedimento, foi realizada liberação do músculo reto abdominal direito e preparado o retalho, que foi devidamente fixado no defeito pélvico após o tempo de ressecção perineal. Em função da necessidade de ressecção de área circunjacente de pele acometida pela neoplasia foi necessário a realização de retalho de pele da região glútea.
Discussão: O retalho vertical do músculo reto abdominal modificado foi proposto por Singh et al. e se apresenta como ótima alternativa para reconstrução após a AAP‐EE. Especialmente em pacientes submetidos a radioterapia pélvica, essa técnica implica na interposição de tecido não irradiado no defeito pélvico. Além disso, a realização de tal retalho pode ser realizado pelo coloproctologista uma vez que envolve a anatomia de uma região mais familiar ao cirurgião colorretal.
Discussão: A interposição do músculo reto abdominal para a reconstrução perineal após AAP‐EE é uma ótima alternativa para o fechamento pélvico e diminuição de possíveis complicações locais da ferida operatória.