Introdução: O câncer pode revelar‐se de maneira insidiosa ou abrupta, surpreender o paciente e até o médico. A demora no diagnóstico implica abordagem terapêutica mais agressiva, diminui a possibilidade de tratamentos mais conservadores e altera a expectativa de vida.
Objetivo: Verificar se pacientes com câncer avançado procuraram atendimento médico no início de seu quadro clínico; se suas queixas iniciais foram investigadas pelos primeiros médicos que os atenderam; prováveis fatores responsáveis pelo avanço do câncer.
Método: Foram feitas 396 entrevistas, de setembro de 2006 a maio de 2007 e janeiro de 2015 a julho de 2016. Não houve seleção dessa população por faixa etária, sexo ou cor da pele. Parâmetros avaliados: tempo de início das queixas, sintomas e sinais relacionados à neoplasia e seu tempo de início até a procura por assistência médica, diagnóstico e orientações recebidas, história pessoal e familiar de câncer. Após ser aplicado o questionário, o diagnóstico e o estadiamento do câncer foram pesquisados nos prontuários.
Resultados: Mais de 70% dos pacientes procuraram atendimento médico em até seis meses após o início dos sintomas. No entanto, 37,2% procuram assistência médica já passados mais de um mês de sintomatologia. Apesar de 77,8% dos pacientes considerarem que foram bem atendidos pelo primeiro médico assistente, 40,9% deles consideraram que houve atraso no diagnóstico da neoplasia. A renda mensal familiar é menor no grupo com diagnóstico de metástase. Há uma correlação entre o tempo de início das queixas com o diagnóstico de metástase.
Conclusão: A demora do paciente na busca pela assistência médica e a dificuldade do médico da assistência primária de saúde de encaminhar o paciente para avaliação subespecializada estão incluídas entre os prováveis fatores responsáveis pelo avanço do câncer.