Introdução: Apesar de manifestação incomum, a tuberculose (TB) intestinal costuma ser observada em regiões endêmicas da doença. Origina‐se por disseminação hematogênica ou reativação de foco latente. Pode mimetizar as doenças inflamatórias intestinais (DII) e sua diferenciação é imperativa em candidatos à terapia imunossupressora.
Descrição caso: Homem, 26 anos, em tratamento de doença de Crohn (DC) ileocecal havia três anos, com mesalazina oral. Foi indicado adalimumabe devido a controle inadequado da doença. Mantinha dor abdominal difusa, diarreia e episódios febris. Optou‐se por troca para infliximabe (IFX). Antes da segunda dose de indução, houve surgimento de tosse, pioria da febre, sudorese noturna e dor abdominal. Encaminhado para nosso serviço, no qual fez tomografia do abdômen que evidenciou derrame pleural, ascite de pequeno volume e microabscessos esplênicos. Submetido à toracocentese com diagnóstico de tuberculose (TB) pleural. Iniciado tratamento hospitalar da TB, com melhoria do quadro e alta. Duas semanas após, evoluiu com quadro de abdômen agudo perfurativo. O achado intraoperatório foi de perfuração ileal, na qual se observou hiperemia, friabilidade e nódulos caseosos no mesentério. Feita enterectomia segmentar. A análise da peça operatória confirmou o diagnóstico de TB intestinal e ganglionar. Recebeu alta hospitalar sem intercorrências e mantém tratamento clínico ambulatorial.
Discussão: As manifestações mais comuns da TB intestinal são: dor abdominal e ascite, associadas a sintomas gerais, como febre, emagrecimento, astenia. Os sintomas podem mimetizar a DC. Nesses casos, o uso inadvertido de terapia imunossupressora pode causar graves complicações, como tuberculose disseminada e perfuração intestinal.
Conclusão: Antes do início da terapia imunossupressora é importante que se confirme o diagnóstico da DII e que se faça rastreamento de doenças infecciosas, em particular da TB.