Introdução: O citomegalovírus é um vírus DNA encontrado na saliva, urina, no sêmen e em outras secreções corporais. É uma infecção prevalente, estima‐se que 40‐60% de doadores de sangue saudáveis tenham evidência de infecção por citomegalovírus. Na maioria das vezes tem uma apresentação que passa despercebida, mas pode ser grave em gestantes e em imunocomprometidos.
Descrição do caso: E.F.C., 55 anos, aposentado, transplantado renal havia 15 anos em uso diário de micofenolato e rapamune. Emagrecimento de 30kg de agosto de 2016 a fevereiro de 2017, associado a forte dor anal que piorava às evacuações. Exame proctológico com intensa dor ao toque retal e presença de úlceração em linha média posterior a 3cm da margem anal; colonoscopia de fevereiro de 2017 apresentava úlceração profunda em reto inferior com suspeita de perfuração. Sorologia IgG/IgM e PCR positivas para citomegalovírus. Feito tratamento com ganciclovir por 21 dias com melhoria da dor anal e ganho de peso gradativo durante a internação. Atualmente acompanha no ambulatório de coloproctologia do HC‐UFG com boa evolução clínica.
Discussão: Durante a investigação de colite e ulcerações inespecíficas, uma série de patologias deve ser eliminada, principalmente em pacientes imunossuprimidos e em países de clima tropical. Foram solicitadas sorologias para HIV, hepatite B e C, citomegalovírus, PPD, pesquisa de toxina A e B de C. difficile nas fezes. Na infecção pelo citomegalovírus, o vírus multiplica‐se na camada endotelial do segmento do cólon acometido, favorece o surgimento de vasculites e tromboses e, por consequência, quadros isquêmicos. Esse evento se mostrou mais frequente em pacientes transplantados renais.
Conclusões: A infecção por citomegalovírus pode se apresentar com ulcerações, erosões e hemorragias. A intervenção cirúrgica pode ser necessária apesar do adequado tratamento com antiviral pela possibilidade de megacólon tóxico e perfuração. Felizmente, neste caso, o desfecho com o tratamento cínico foi satisfatório.